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Documentários e o processo criativo

Além de ouvir e fazer música, no meu tempo livre gosto de ver filmes e séries. Nos últimos anos, tenho vindo a desenvolver um gosto especial por documentários, mais concretamente, por documentários que acompanham artistas enquanto desenvolvem um projeto.

Um documentário é a oportunidade de ver a magia a acontecer, vislumbrar como é que as ideias começaram, e acima de tudo é uma maneira de ver o processo criativo dos meus artistas favoritos. Como é que fizeram aquela música que me faz sentir tanto em tão pouco tempo? Qual é a fórmula secreta para fazer um álbum perfeito? São estas algumas das perguntas que tenho na cabeça quando começo a ver um documentário novo.

Chegando ao fim, a resposta que obtenho não é de todo a que procurava.

Para dar algum contexto, em geral sou uma pessoa demasiado agarrada a processos e a listas de passos. Vendo o mundo por este prisma, tudo me parece simples e menos intimidante porque tudo se torna determinístico. Se fizer x, obtenho sempre o resultado y. E esta maneira de pensar está presente nas perguntas que referi anteriormente.

Mas, a música (e qualquer arte) não pode ser encarada assim. Não existem fórmulas para chegar a uma música que é indiscutivelmente boa. Primeiramente porque toda a arte é subjetiva e segundamente porque se assim fosse, o “landscape” atual da indústria seria certamente muito diferente.

O processo criativo pode começar quando ouvimos um motor a criar um ritmo que nunca antes ouvimos, evoluir com uma ideia aleatória que temos enquanto damos um passeio e terminar com a criação de uma faixa de Pirate Metal que nunca chega a ver a luz do dia. Apesar da Teoria Musical dar algumas pistas do que pode ou não soar bem, no final de contas o nosso ouvido e a nossa criatividade (e sua aleatoriedade inerente) é que ditam a direção a seguir.

E afinal qual é a resposta que obtenho depois de terminar um documentário? Que (quase) todas as músicas que adoro surgiram de uma forma natural e instintiva, sem pensar demasiado na teoria ou em processos concretos. Saiu assim porque tinha de sair assim. À primeira vista, fico desiludido porque tenho de aceitar que quase tudo se resume a uma questão de sorte. No entanto, ao pensar um pouco mais sobre o assunto, percebo a maravilha que isto é e que posso chegar a uma faixa completamente diferente de tudo o que ouvi até ali. E é esta a verdadeira magia do processo criativo.

O teclado MIDI

Custa-me acreditar que durante grande parte da minha vida não sabia o que era um teclado MIDI, tal a importância que este simples objeto ganhou desde que comecei a fazer música.

Desde cedo me interessei pelo piano como objeto monumental. As teclas brancas intercaladas pelas enigmáticas teclas pretas, a simplicidade do design e a sua repetição óbvia, mas não completamente clara e o seu som que, no caso do piano elétrico, podia passar rapidamente de um som suave de baixo para um sintetizador abrasivo.

Apesar do interesse pela sua mística inerente, só em 2017 é que comecei a tentar compreendê-lo. Primeiro através da interface do “Piano Roll” do meu Digital Audio Workstation (DAW) e depois quando comprei um AKAI MPK Mini, um teclado MIDI de apenas 25 teclas.

Mas afinal o que é um teclado MIDI e como é que se relaciona com o piano?

Um teclado MIDI (Musical Instrument Digital Interface) é um controlador que normalmente tem a forma de um piano convencional e que é utilizado para enviar sinais para outros dispositivos musicais ou para computadores.

Em 2019 comprei o meu primeiro teclado MIDI de 88 teclas, um M-Audio Keystation MK1 88. Esta compra fez-me finalmente sentir que tinha o mundo inteiro nas pontas dos dedos, mesmo ainda sendo um completo novato no instrumento.

A partir daí, eu e o teclado MIDI tornámo-nos inseparáveis. Vendi o AKAI para comprar um sintetizador (o KORG Minilogue XD para os curiosos) e a minha vida de músico tem-se segmentado entre compras e vendas de material, sempre com alguma dificuldade entre balancear o que é estritamente necessário com a quantidade de espaço que tenho disponível.

De momento tenho um teclado MIDI M-Audio Keystation MK3 88 e um teclado a pilhas, o Yamaha PSS A50, que vem munido de sons e de colunas que me ajudam a pôr em prática ideias sem ter de ligar o computador. Apesar de sentir que este é um setup muito bom, dou por mim a pensar em possíveis otimizações. No entanto, uma coisa é certa: terei sempre pelo menos um teclado MIDI comigo.

Simplesmente fruta

Desde pequeno que nunca fui pessoa de comer sobremesa. Ia a festas nas casas dos amigos dos meus pais e, apesar de me apresentarem todo o tipo de doces, desde a serradura à mousse, acabava por não comer nada (excepto quando a minha avó fazia arroz doce, mas isso é história para outra altura).

Sentia-me bem com a posição que tomei desde cedo, mas admito que foi a razão da minha primeira questão existencial. Ao mostrar desagrado perante o cardápio de sobremesas disponível, os adultos envolvidos comentavam que não fazia sentido uma criança não gostar de doces e que eu parecia que tinha nascido velho. Na minha cabeça isto não fazia muito sentido porque na mão tinha sempre uma tartaruga ninja e estava sempre todo suado por ter passado horas a jogar à apanhada.

No entanto, senti-me ainda mais julgado quando me apercebi de que afinal existia uma sobremesa de que gostava: a salada de frutas.

Eu sei, já sinto a indignação, o ultraje que é proferir esta afirmação. Mas, permitam-me falar um pouco da minha experiência e, se calhar, ainda vos convenço de que a salada de frutas (e fruta em geral) é realmente superior.

A salada de frutas não só tem maçã, pêra e banana, como pode ter outras frutas mais gourmet como o pêssego, a uva e, ocasionalmente, a manga. Ou então pode nem ter nada disto, fica completamente ao critério de quem a faz. Até aos dias de hoje continua a ser a minha escolha de eleição em qualquer restaurante tradicional português.

Depois desta descoberta senti que ia oficialmente deixar de ser posto de parte e que existia uma sobremesa para mim, que não nasci velho. No entanto, não foi bem esta a reação que obtive, porque para além de não gostar de nenhuma das sobremesas “normais”, agora gostava da sobremesa dos “totós”. Em certa medida até compreendo porque ninguém quer um miúdo de 7 anos a fazê-los sentir mal por já estarem na segunda taça de baba de camelo.

Como fazer salada de frutas é uma tarefa que exige algum esforço e ocupa muito espaço no frigorífico, hoje em dia contento-me em comer uma peça de fruta em praticamente todas as refeições que faço. A minha fruta favorita: maçã vermelha. Sei que isto não ajuda muito no caso que estou a tentar fazer, mas prezo a minha honestidade. Se calhar ajuda dizer que entretanto já descobri algumas sobremesas que gosto realmente, como o cheesecake, a tarte de abóbora e a tarte de maçã. Ainda assim, a fruta continua a ocupar um cantinho muito especial no meu coração.

Podes escutar AWAKE nas várias plataformas de streaming. A versão fisíca do disco estará disponível para compra em breve.

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