Underwater, feels like eternity é o primeiro álbum totalmente composto e produzido por Monday, nome artístico de Catarina Falcão, também uma das irmãs de Golden Slumbers. Depois de iniciar a sua carreira a solo, em 2018, com o lançamento do seu primeiro álbum, One, e mais tarde, em 2020, com o aclamado EP Room for All, Monday faz do seu regresso notório, tendo lançado no início deste mês de maio o longa duração mais pessoal e vulnerável da sua (ainda curta) discografia. 

A água é o elemento harmonizante deste disco. O peso emocional das letras transporta-nos para debaixo de água, onde sentimos a sua densidade e sufoco, enquanto a sua musicalidade nos eleva à superfície, onde vivenciamos a leveza da água a escorrer em nós. É com esta analogia que Monday nos apresenta, sem medos, a sua nova sonoridade e identidade musical. Uma coletânea de dez canções que inclui ainda duas colaborações com Afonso Cabral e April Marmara. 

Monday - Underwater, feels like an eternity
Capa Underwater, feels like an eternity

Para percebermos esta nova fase na carreira da artista, a Playback foi até aos estúdios da editora e agência louva-a-deus, instalada numa antiga igreja, para conversar com Monday numa, por total coincidência, segunda-feira.

Como te tens sentido com o lançamento do Underwater, feels like eternity?

Acho que o disco está a ser muito bem recebido. Estou meio aliviada, embora no dia do lançamento tenha ficado triste porque este disco foi a minha identidade durante dois anos e parecia que o meu propósito era só aquilo. De repente, ele saiu na sexta-feira [3 de maio], e fiquei só a pensar: agora, o que faço? O que vai acontecer agora? Foi um sabor agridoce pensar que essa fase da minha vida terminou. Obviamente que este sentimento também é mais positivo do que negativo, mas no dia do lançamento foi estranho. Acho que isto justifica-se porque sou uma pessoa muito inclinada para a nostalgia. Às vezes agarro-me um bocado ao passado…

Esse é o mesmo sentimento de quando a arte deixa de ser o artista e passa a ser das pessoas, não é?

Sim, e isso era tudo o que eu queria que acontecesse. Fiquei mesmo contente que o disco não seja agora só o meu, mas ao mesmo tempo, questionei-me: quem é que sou agora? O que é que faço? Mas agora já estou bem. Tenho recebido mensagens mesmo fixes e sinto que as pessoas estão a ouvir como deve ser e a entendê-lo.

Cada vez que escutei o disco descobri um novo pormenor, como o riff de saxofone na faixa “On and on”, ou a linha subtil de piano na “Habits”. Esses pequenos detalhes foi algo que quiseste trabalhar neste disco?

Sim, porque como fui eu a fazer a produção e os arranjos deste disco, isso deu-me a liberdade de fazer essas descobertas, especialmente, qual era a minha sonoridade, o que é que gostava de fazer… Embora, já tenha produzido dois temas sozinhas, não foi um disco inteiro-

Isso quer dizer que nos teus projetos anteriores não estavas satisfeita com a sonoridade que tinhas?

Isso é sempre meio traiçoeiro porque acho que o tempo passa e é normal começarmos a distanciar-nos um bocadinho daquilo que já fizemos. Por exemplo, sinto-me bastante distante do meu primeiro disco [One]. Não necessariamente das canções, porque  ainda gosto de as tocar ao vivo, mas em termos de arranjo e produção. Já não é bem aquilo com que me identifico. Mas isto não implica que não goste imenso do EP [Room for All] e da sua sonoridade. Acho que era muito bom naquela altura. Queria muito fazer uma coisa dentro daquele género e queria muito que soasse assim. Para este disco, pensei que era por aí que eu queria continuar: dream pop mais colorido e com arranjos mais sofisticados, mas a verdade é que, enquanto produtora, apercebi-me que é no silêncio que me encontro. Não gosto de estar necessariamente sempre a meter mais e mais e mais para disfarçar alguma coisa. E não é que disfarce, mas às vezes há um inconsciente de: isto é muito vulnerável, vamos meter mais coisas em cima para ver se ninguém repara. Mas agora, consigo assumir quando uma canção é vulnerável, e que não precisa de ter bateria, ou um baixo, apenas a minha voz e a guitarra.

Podemos dizer que crescem sozinhas?

Sim, exato. A pessoa que estiver a ouvir também vai entendê-la à sua maneira. Pelo menos comigo isso acontece. Às vezes só ouvir músicas mesmo simples bate-me imenso. Mas outra pessoa pode nem estar aí, sabes? Não temos que sentir as coisas da mesma maneira. Antes, eu precisava muito de criar o imaginário absolutamente fechado e definido para que as pessoas chegassem àquilo que queria que elas ouvissem, e agora só faço aquilo que sinto que a canção me pede.

Mas isso era uma mentalidade que tinhas estabelecido quando começaste a compor ou foi algo que se foi construindo ao longo deste disco?

Foi-se construindo, sem dúvida. Até porque, quando comecei oficialmente o disco, em setembro de 2022, a ideia nem sequer era produzir. Só queria fazê-lo. Eu tinha saído de uma relação um bocado… difícil. Estava numa fase onde não me encontrava e não tinha noção de mim mesma, sabes? Então, foi um desafio para mim escrever e produzir e não ter de mostrar a ninguém. Mas pensei: Bora só fazer. Let’s make this fun! Fui tentando ter algum controlo de como é que me sentia através da escrita e de conseguir, de alguma forma, decifrar aquilo que eu estava a sentir naquela fase específica.

Em que momento é que sentiste que podias lançar este disco?

Fui partilhando com o Nuno Monteiro, que trabalhou comigo no último disco de Golden Slumbers e no último EP de Monday. E como somos muito amigos, ele sempre me disse: “Catarina bora gravar!” E eu dizia-lhe: “Logo se vê”. O Nuno foi super motivador, assim como a minha prima [Mané AP], que foi quem fez o artwork, e que me dizia: “Só fazes isto para te divertires”. Acho que comecei a ganhar a pica para juntar mais pessoas para montar uma equipa. O convite ao Afonso Cabral e à Bia [April Marmara], surgiu mais tarde. Mas não sei se houve um dia em que decidi que ia fazer o disco. Foram vários fatores e momentos que me motivaram de alguma maneira.

A faixa “On and on” surgiu na pandemia, na tua casa de família em Vila Real. Mudaste-te para lá para fugir à claustrofobia da tua casa [em Lisboa] ou foste lá porque querias fazer alguma coisa para ti?

Eu fui para Vila Real porque estava num apartamento em Lisboa e estava a ficar claustrofóbica. Como gosto muito da casa da minha família, por ser, para mim, um sítio de paz, fui para lá para fugir do mundo e levei a guitarra comigo para cantar um pouco. A “On and on”, por exemplo, foi mesmo escrita no início da pandemia. Mas essa música específica foi um tema meio solto, e teve um momento dela própria, sabes? Não sinto que se junte muito ao resto do disco. Na altura em que escrevi esse tema, estava a sentir-me frustrada com tudo o que estava a acontecer, e pelos receios todos de sentir que não havia espaço nenhum para se criar. Aliás, já não existia antes, e agora ainda menos. Estava a ser estranho ver tudo aquilo acontecer à minha volta e sentir-me absolutamente impotente.

No entanto, decidiste colocá-la neste disco. Porquê?

Porque sinto que musicalmente, de alguma maneira, se aproximava com o que queria fazer. Gosto da música e já a tocava ao vivo desde essa altura, e queria muito gravá-la. Sinto que este disco é uma coleção das minhas frustrações.

Como é que costumas produzir as tuas demos? 

Depende muito. Quando é mesmo fase de demo, utilizo guitarras, vozes, e faço os arranjos das vozes e harmonias. Depois é um bocado por processo. Quando estou a pensar em arranjos, trabalhar… Também é sempre uma demo na mesma, não é? Ainda não estou propriamente a pensar em produção porque não me preocupa tanto o tipo de som. Ou seja, o que for é mais tipo… O que é que são os arranjos que eu quero pôr.

Mas és muito agarrada à primeira versão?

Não. As demos são material para começar. Agarro-me à energia que a canção tem. A “Wasteland” é um bom exemplo disso. A demo dessa canção tem mesmo a intenção perfeita, e foi um bocado difícil depois conseguir reproduzi-la de uma forma genuína na gravação final. Tivemos que ser muito minuciosos e não pôr demasiadas coisas. Isto porque as demos às vezes têm uma energia super bonita e é difícil replicá-la em estúdio.

De volta à “On and on”. Considerando que foi uma canção composta numa fase diferente da tua vida, como é que foi trabalhá-la, supondo que já não te identificavas totalmente?

Não senti nada disso por acaso. Há mais uma música no disco que também foi escrita em 2018, que é a “One foot in line”, e curiosamente o disco começa com essas duas malhas antigas. Por isso, tanto essa como a “On and on” senti que estavam mesmo próximas daquilo que queria dizer, sabes? Claro que com uma distância saudável, graças a Deus. Mas consegui perfeitamente dizer aquilo que disse na altura sem sentir que estava a ser pouco genuína.

Sentes que mantiveste a autenticidade que ela tinha inicialmente?

Acho que sim. A demo da “On and on” até era bastante diferente. Portanto, até consegui pô-la um bocado mais interessante na minha ótica, e dar-lhe um bocado mais de vida. Originalmente, ela era muito mais simples. Mas sim, não me senti muito distante dessas duas, até porque se sentisse não as tinha incluído. E isso aconteceu: há canções que acabaram por não entrar no disco por não se enquadrarem em termos de soundscape ou até de emoção. Algumas que escrevi nesse período e outras até mais cedo, mas houve algumas que acabaram mesmo por não fazer sentido. Mas essas duas fizeram parte e deram-me pica em fazer e pensar em arranjos. Quando é assim, geralmente, é um bom sinal.

Este disco também teve um papel muito terapêutico para ti, não foi? Porque, como disseste há pouco, é um disco que coleta as tuas frustrações e acompanhou-te numa fase menos boa, não é?

Sim, foi bastante terapêutico. Não sei até que ponto é que também, para além da parte terapêutica, se calhar houve uma altura que a terapia já estava feita e eu só estava a meter o dedo na ferida, embora fosse necessário. Às vezes vais mesmo para além da exaustão. Mas sim, foi super terapêutico e mais do que terapêutico, foi super interessante perceber que conseguia fazer isto. Acho que a ideia de produção, para mim, era uma vertente da música que não era para mim. Achava mesmo que eu não pertencia a esse título. Era ridículo chamar-me produtora…

Porquê?

São convenções e estereótipos idiotas que nós temos, do que é que é ser um produtor. Pensava que para eu ser produtora tinha que ter uma série de qualidades e uma série de conhecimentos que eu não tinha. Há muitas coisas técnicas que aprendi durante este processo e mesmo assim tenho muito mais para aprender. Há muitas coisas de teoria musical, e, sendo eu uma pessoa que não tem grande instrução musical, que aprendi de forma autodidata e com o tempo. Mas é uma parvoíce, porque acho que podes não saber absolutamente nada, mas se fazes uma coisa que é tua, you’re a producer. End of question. Com este processo, percebi-me também que ser produtor é só teres a liberdade para fazeres a música que queres. E depois podes te juntar com alguém, como me juntei com o Nuno Monteiro, que foi o meu engenheiro de som, e que me ajudou a chegar aos títulos que  queria quando dizia coisas tão simples como: “Nuno, eu quero uma coisa com grão e roxa.”

Uma visão bastante sinestésica!

Sim, eu tenho bastante sinestesia e isso influenciou bastante a forma como eu trabalhei com o Nuno e pedia-lhe para modificar coisas. Mas claro que não é o processo mais fácil do mundo. Connosco funcionou muito bem, mas para outras pessoas se calhar não funciona. É preciso também muita química. E como eu me dou super bem com ele, depois também aprendi com ele os termos certos para me expressar e explicar.

Voltarias a produzir um disco sozinha depois desta experiência?

Não sei mesmo. Já pensei que sim, já pensei que não. Não necessariamente por ter sido uma má experiência. Pelo contrário. É mais porque eu gosto mesmo de trabalhar com pessoas. Houve uma parte desse lado humano, de ter alguém ao meu lado na produção, que senti falta. Mas também não sei… Aliás, sei que nunca faria as cedências que fiz no passado. Sei que há coisas que não faz sentido para mim não estar totalmente envolvida.

Monday por Elisa Azevedo
Fotografia: Elisa Azevedo
Qual é que foi o maior desafio em fazer disco?

Não acho que foi tanto produzir o disco em si, mas sim as misturas. É sempre a minha dor de cabeça. Odeio a fase das misturas, embora depois acabe por gostar. No entanto, até definirmos que este disco ia ser muito pop, que ia soar “grande”, que a voz ia estar muito presente, demorou. Mas é sempre chato.

E essa perfeição de alcançar o som perfeito influenciou os deadlines?

Claro. Tudo se atrasou quarenta mil vezes. Nós fechamos as misturas finais poucos dias antes do lançamento.

Quero pegar na tua sinestesia e falar-te da cor azul. Sinto que essa cor tem um significado enorme à volta do álbum ou não?

[Risos] Já percebi que eu sou azul. Primeiro, porque gosto da ideia da água. Segundo, adoro a ideia de washing your sins. Não sei se é por ter nascido numa casa católica, mas aquela ideia de lavar os teus pecados, em água. É super gráfico. Mesmo já não estando ligada à igreja, a imagem é muito poderosa para mim. Gosto mesmo da ideia da água e dessa limpeza, da cena de estar submersa , de sair outra pessoa porque deixaste na água aquilo que precisas. E, sei lá, o mar é azul. Para mim, são sempre duas imagens: o azul no geral, o céu, o mar e a calma que o azul me traz. Acho que o disco tem um monte de momentos nas letras quando falo sobre água.

Aliás, até o título do álbum fala sobre a água. Qual é o seu significado?

É difícil de definir em algo específico. Acho que o título fala sobre tudo. É uma ideia de sufoco que, ao mesmo tempo, é super lenta, mas quase pacífica, sabes? Consegues ver tudo a passar e estás só a ver, a não saber como reagir, e ao mesmo tempo pacífica na tua inércia, mas com vontade de sair dali. Acho que isso também descreve imenso o disco.  Para mim, é muito representativo daquilo que eu sentia nessa altura, na altura de compor o disco, e que na realidade senti até o disco sair Depois de ter saído, é outra coisa [risos]. Agora estou aqui à beirinha de água, com os olhos de fora e o nariz para respirar.

Nos videoclipes dos singles, tu e o André Tentugal são fascinados pelo simbolismo. No videoclipe da “Intention”, apareces com um copo de água cheio, e no videoclipe da “Wasteland”, apareces com o mesmo copo, mas agora sem água. Qual o significado disto?

A ideia dos videoclipes é fazer a junção dos três. Intentions” é o primeiro capítulo, depois segue-se a Wasteland” e termina na “Habits”. E a “Intentions” é o momento de ruptura, do género: where the fuck am I? I don’t wanna be here. Para passares para a Wasteland”, que é: saying goodbye. Depois termina na Habits, que retrata a chegada a um novo sítio e a aceitação do mesmo.

Curioso que os três videoclipes foram todos gravados em Londres. Qual a tua relação com a cidade?

Vivi em Londres quando era mais jovem e a minha irmã [Margarida Falcão] está lá a viver. Mas porquê Londres? Porque eu e o Tentugal estávamos a pensar na ideia para os videoclipes e eu disse que gostava muito de fazer três capítulos e de aproveitar as gravações para conseguirmos esmiuçar tudo o que pudéssemos para esses três capítulos. E o André é que se lembrou de fazermos em Londres por causa da imagética. Na altura, ainda nem havia capa nem nada, mas mesmo assim ele achou logo que a minha música era mais azul, cinzenta, roxa, do que propriamente as nossas imagens em Portugal, que são mais áridas, mais verdes e laranjas. Então, ele sugeriu irmos a Londres porque, apesar de tudo, era próximo e a minha irmã também vivia lá.

E a tua irmã que também se juntou, certo?

Sim, ela esteve responsável pela produção dos videoclipes, e teve a responsabilidade de ligar para os sítios para podermos ir filmar.

Este disco foi editado pela Lay Down Recordings. Como é que surgiu este convite para fazeres desta família?

A editora é de Marinho, e nós somos amigues há muito tempo. Quando começou a editora, Pip perguntou-me se me queria juntar, ao que disse que sim. Desde então que temos lançado artistas dos quais gostamos mesmo muito e que têm uma linguagem comum. É uma editora pequena, portanto também não tem os fundos e maneios, comparado com outras labels independentes cá em Portugal, mas somos pessoas que gostam mesmo de música e que tentam defender o melhor possível os artistas e os seus trabalhos, portanto acho que é daí que vem a cena mais família. Entretanto, a Bia, a April Marmara também se juntou, mas ainda é tudo muito recente.

Quando fui pesquisar sobre a label e os seus artistas, vi que existe uma colaboração mútua entre os músicos ligados à editora. Foi a label que aliciou a colaboração com April Marmara?

Não, com a April não. Mas já aconteceu com vários outros amigos. Já gravei coisas para Marinho e para outros também.

Decidiste convidar o Afonso e a April então porquê?

O Afonso já sabia que queria que fosse a voz da Habits”.

Porquê?

Comecei a compor a “Habits” sabendo que precisava de uma voz masculina porque queria alguém que criasse o diálogo que a música tem. No fundo, é uma canção sobre lidar com os fantasmas de uma relação anterior quando estás numa nova relação. Além de sermos amigos, eu adoro a voz do Afonso Cabral. Já o conheço há bastante tempo e já tinha cantado com ele. Decidi que era a minha altura de que ele me devolvesse o favor [risos] e ele acabou por escrever o verso dele. Senti mesmo que era necessário ter a perspectiva dele para a canção.

Mas trabalharam o som juntos ou o Afonso Cabral só compôs a sua parte?

Ele escreveu o verso dele e depois cantou. Depois, trocamos só umas impressões, mas foi um processo imediato. Ele mandou-me as vozes dele e eu disse: “está feito, obrigada.” Em relação à Bia, eu sou super amiga da Bia e gosto muito da voz dela, assim como o disco dela [Still Life]. E a “Teenage romance” já era uma canção meio estranha: são três partes que se colam. As pessoas que têm ouvido essa canção têm opiniões diferentes. Há pessoas que sentem que é uma só canção e houve outras que acharam que tinha acabado e depois tinha recomeçado. Para mim faz todo o sentido porque escrevi a música de seguida, não a escrevi por partes, mas sei que não há propriamente um refrão. Na altura, nem sabia o que queria que a Bia fizesse, mas convidei-a para tentarmos fazer alguma coisa nessa música. Essa música deu imensas voltas de produção e de arranjos. Antes destas voltas todas, tinha falado com a Bia para até fazermos um outro, ou seja, ia ser uma canção separada que depois se juntava a esta. Houve todas estas ideias megalómanas para se chegar a um consenso. Aliás, eu até queria chamar a track de “Bia Song”, não por ser necessariamente a música dela, mas para fazer mesmo referência ao nome dela. Eu sabia que queria que ela cantasse, mas não sabia muito bem onde. Queria imenso que fizéssemos alguma coisa juntas. Sabia que era naquela música, mas como, não fazia ideia. Criámos esse outro e tentámos ir por aí, mas aquilo não estava a funcionar muito bem. Parecia que estávamos a colar coisas que já não faziam sentido. Eventualmente, só disse à Bia para cantar apenas o verso que ela canta e ver se funcionava. E funcionou. Acho que ela traz mesmo a right texture para essa música.

É também interessante teres dito que as tuas músicas favoritas do disco são as colaborações…

Eu sei! E agora também gosto muito da When I Loved Another Man”. Mas eu também sei que isto vai ser flutuante. Daqui a uns meses é outra, depois é outra, mas nesta fase é mesmo as duas. 

É o que me disseste no início: gostaste muito de trabalhar sozinha, mas também gostaste de criar aqui uma família, não é?

Sim, se calhar inconscientemente é isso, de ter tido input de duas outras pessoas, e porque se calhar às vezes quando fazes música a contar com a participação de outras pessoas tens assim um cuidado extra, especialmente se for com amigos. Provavelmente foi isso.

Cartaz Monday
Apresentações de Underwater, feels like an eternity
Mas também porque é que surgiu a ideia de trazer colaborações para este disco? Acordaste e disseste: ”eu quero fazer colaboração neste disco”.

Sim, foi exatamente isso para ser honesta. Disseste-o bem há bocado. Se calhar, eu sabia que ia fazer o disco sozinha. Nunca tive features em discos meus, mas já fiz feature nas canções de outras pessoas. Então, pensei: why the fuck not? Estava a fazer tudo sozinha e a ouvir-me e a lidar comigo todos os dias e era uma seca [risos]. Portanto, porque não convidar pessoas para cantarem comigo? E assim foi. Especialmente, porque cantei com duas pessoas de quem gosto muito.

Como é que pensas que as pessoas podem ouvir este disco?

Se fosse eu a ouvi-lo, sem me conhecer, seria num ambiente calmo. Isto não é um disco para se ouvir num ambiente de festa, a não ser que seja através de uma dança chorosa, e com uns bons fones. When you feel like you need a little comfort, sabes? Se calhar com um cigarro ou um charro a acompanhar, relaxares, chorares um bocadinho e seguires em frente.

Monday apresenta Underwater, feels like eternity no Porto, nos Maus Hábitos, a 20 de junho, com primeira parte de Calcutá, e em Lisboa a 22 de junho, na Sala Lisa.

Fotografia de destaque: Pip Marinho

Matilde Inês é uma pessoa que se emociona com os pequenos pormenores. É mais provável ouvimo-la a cantar as back vocals ou solos de guitarra, do que a letra principal. Recém licenciada em Ciências da Comunicação e que, atualmente, trabalha como radialista e jornalista na Rádio Voz de Alenquer. De vez em quando, escreve aqui e ali sobre música.
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