Quando vi Brian Wilson em 2016, a minha crítica do concerto para o saudoso The 405 começava com uma referência a um outro peso-pesado seu contemporâneo cujo espectáculo tinha tido a felicidade de assistir seis meses antes: a dado momento do set de Donovan no Olympia para celebrar os 50 anos do seu álbum Sunshine Superman, ocorreu a epifania—um tanto quanto óbvia—que estas pessoas não iriam estar aqui para sempre. Claro que ninguém está livre de ver a sua carreira cortada cedo demais por outros motivos, mas mesmo para quem tenta a poética proeza de morrer em palco (Ney Matogrosso estou a olhar para ti) existe sempre um ponto final. Que nunca é tão distante como desejaríamos.
Num espaço de três dias, perdemos Brian Wilson e Sly Stone, indiscutivelmente dois dos músicos mais inventivos e geniais (coisas diferentes) com quem tivemos o privilégio de partilhar a nossa existência neste planeta. Alguns de nós até conseguiram respirar o mesmo ar que eles num raio de meras centenas de metros, que por uma macumba qualquer pareceram simultaneamente escassos milímetros e uma distância infinita.
Não sou de todo apologista de rapar o fundo do tacho para obter todo o lucro (financeiro ou outro) que advém duma aparição de cariz quase mariano duma destas figuras—o que, de certa maneira, acabou por acontecer nos últimos concertos de Brian Wilson e no comeback semi-desastroso de Sly Stone nos anos 2000 (tanto Coachella como Montreux deixaram muito a desejar). Mas se pudesse dar um conselho seria: vão ver os vossos ídolos. Apesar de ser possível (e até bastante provável) trazerem como única merch uma grande dose de desilusão, irão arrepender-se se tiverem essa oportunidade e não a aproveitarem. Concordo que “há sempre os discos”, mas numa era com tanta falta de conexão humana, são essas experiências que ficarão convosco anos a fio, muito depois de nos termos tornado andróides alimentados a extracto de cripto.
Lá chegará o dia em que, se se portarem bem, os reencontrarão numa outra galáxia. E se pedirem com jeitinho, talvez (talvez!) até consigam que eles toquem uma musiquinha para vocês.