Fafe: O epicentro do rock em Portugal?

Disclaimer: este, será o primeiro texto de uma ode que já conta com alguns quilómetros de estrada – tanto na minha mente, como nos meus sapatos – e, por este motivo, é possível que a veia emocional esteja bastante evidente.

Sinto que os seres humanos que se têm vindo a juntar e, consequentemente, a movimentar o Minho ao longo dos últimos anos, possuem algo de mágico. Cada associação local tem contribuído para uma espécie de sinfonia coletiva de criatividade e que, como resultado, acaba por preencher o ar com uma energia contagiante de uma festa sem fim. Nasci cá, vivo cá e apesar de uma série de perdas de espaços que têm trazido vários dissabores às comunidades artísticas locais, a ideia “hollywoodesca” de que isto também lhes traz a força da renovação permite-me hoje afirmar que o Minho tem vida e é emocionante fazer parte desta jornada que celebra a diversidade, a inovação e que promove a união.

Espero que este artigo seja apenas o início de uma aventura que vos leve a descentralizar, a explorar outros mundos – dentro do nosso amado retângulo à beira mal plantado – e não só. Espero que seja uma espécie de desabafo que fica agora registado. Meu e vosso.

Primeira paragem: Fafe

“O que diz o teu rock?” lia-se num longo cartaz na entrada da sala principal do Ano Malfeito (2024 edition). Confesso que ao contrário do que se ia passando entre o público, optei por não deixar o meu pensamento registado. Gosto de pensar que ainda me faltam alguns anos para saber responder a esta questão e, por esse motivo, preferi deambular internamente entre os meus pensamentos e, agora, deixar aqui os meus dois cêntimos registados sobre a Malfeito – aquela que lançou as achas para o início desta odisseia.

Desde os primórdios do rock n’ roll que o espírito rebelde e a atitude transgressora têm sido as pedras angulares deste movimento, e se existe um lugar onde essa essência é vivida de forma visceral é em Fafe, no Café Avenida. Ali, sob os panos pretos do teto, o piso de tijoleira e as luzes incandescentes do café local, o coração do rock “bate-nos forte”, impulsionando o trabalho incansável daquela que não é apenas e só uma promotora local.

Malfeito 2024.
Malfeito 2024. Fotografia: Francisco Cabrita

Responsável por reunir músicos, artistas e entusiastas para celebrar a música de uma forma autêntica, a Malfeito é a alma pulsante por trás do movimento rock n’ roll em Fafe. Fundada por um grupo de amigos e apaixonados pela música, teve origem numa ideia simples: promover espetáculos locais para dar visibilidade às bandas independentes. Com o passar dos anos, a ideia cresceu e transformou-se num movimento cultural que transcende as fronteiras da pequena região minhota.

Entre as barreiras do tempo e do espaço, conectamo-nos com a tradição rebelde do rock e sentimo-la reinventada para uma nova geração sedenta por autenticidade. Vejamos, por exemplo, a agenda de eventos para o próximo dia 25 de Maio que contará com MAQUINA. e Homem do Robe.

Por trás de cada evento da Malfeito, existe uma comunidade de indivíduos apaixonados, dedicados a preservar a essência desta associação e promotores do verdadeiro espírito do rock. São eles que trabalham incansavelmente nos bastidores, garantindo que cada concerto e que cada aniversário se torne numa experiência inesquecível para todos os presentes. A paixão é contagiante e é impossível não me deixar levar pelo fervor que eles emanam.

Os Malfeitores – assim os batizei – são uma espécie de guardiões da tradição, defensores da liberdade artística e catalisadores da mudança cultural. Sabem muito bem que o rock n’ roll não é apenas música; é uma forma de vida, uma expressão de identidade e uma voz para os esquecidos. São os arautos da rebelião, os construtores de pontes entre as gerações e os defensores da autenticidade num mundo cada vez mais artificial.

Ano Malfeito 2024.
Ano Malfeito 2024. Fotografia: Francisco Cabrita

Enquanto o movimento rock n’ roll de Fafe continua a crescer e a evoluir, a sua influência estende-se muito além das fronteiras da cidade. É fácil perceber que os aniversários da Malfeito carregam um carinho especial e que atraem cada vez mais atenção da mídia, dos músicos e amigos que começam a querer marcar presença nos mesmos, solidificando a reputação de que “Fafe é Hollywood” em Portugal.

Graças ao trabalho incansável da Malfeito e de todos aqueles que compartilham da mesma paixão, o futuro desta associação parece brilhante e promissor. À medida que as novas gerações de músicos e fãs se unem para celebrar essa forma de arte atemporal, podemos ter certeza de que as ruelas de Fafe continuarão a ecoar com o som inconfundível do rock.

Num mundo cada vez mais homogeneizado e previsível, lugares como Fafe e movimentos como o promovido pela Malfeito lembram-me da importância de manter viva a chama da rebeldia e da autenticidade. Enquanto houver corações dispostos a bater ao ritmo do rock n’ roll, o espírito dessa música continuará a ecoar, selvagem e livre, pelas ruas de Fafe e além.

Resta-me dizer: levanta o teu fino, grita ao som dos acordes e junta-te à festa, porque o rock n’ roll nunca morrerá enquanto existirem Malfeitores em ação.

Nascida em Braga, teve o seu primeiro contacto com o mundo nos anos 90. Copywriter de gema, fez crítica musical e gestão de projeto na Que Amor É Este, mas foi na Bazuuca que se afirmou como "a eterna estagiária". Quando está fora da internet, é fácil apanhá-la na sala de concertos mais próxima.

Uma ode à Malfeito e à cena alternativa de Fafe.

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