10 edições de Festival F: Em Casa

Por onde em tempos passaram cónios, romanos, visigodos e mouros, numa então Óssonoba na região de seu nome Al-Gharb al-Andalus, há cerca de 11 anos que a rentrée de setembro em Faro é celebrada com o Festival F. Tomando lugar na Cidade Velha, um dos corações da cidade, adornada pelas muralhas que restaram de uma antiga alcáçova, ao longo de 10 edições – com a pontualidade das chamadas Noites F, nos anos de COVID (2020, 2021) -, desde 2014 que a capital do Algarve recebe aquilo que se autoproclama como o “Último Grande Festival de Verão”.

Cunhos à parte, nesta década com acrescento, para quem conhece o festival desde a sua fundação é difícil não reconhecer o crescimento que este tem tido, especialmente em termos mediáticos. Hoje em dia, tanto por um dos arcos da vila como pelo Largo de São Francisco, entra um público que se tem diversificado regionalmente, apesar do ethos da proposta apresentada pouco ter sofrido alterações desde a sua génese: um festival com cartaz quase totalmente – salvo pouquíssimas exceções – português, numa zona histórica de uma cidade emblemática da região. Quando estou fora e digo que sou de Faro, já não me respondem (só) que gostam muito de Albufeira, Carvoeiro ou outra cidade a mais de 50 quilómetros da minha, que pouco ou nada tem a ver e que o pessoal curte para férias. Já me perguntam pelo F. Sinceramente, é um indicador de que se está a construir um nome, uma referência ou uma tradição que já habita na memória coletiva mesmo de quem já não é de cá.

Aproveito já, jurando que o que sairá desta frase não é um disclaimer, que não sei bem que tom estou a passar até ao momento, nem que tom pretendo passar nas próximas palavras que o meu encéfalo ordenar teclar, mas que, com certeza, o que aqui se ler é algo que me sai do peito. Porquê? Porque falando bem ou mal, criticando, satirizando, ou elogiando e enaltecendo, o Festival F é, e esperemos que continue a ser, o meu festival. Reitero – o nosso (Farenses) Festival. O carinho que nutro pelo que já vivi no F – talvez adulterado até certo ponto pelo amor que tenho pela minha cidade -, é bem mais compensador do que as (várias) críticas ou imperfeições que nele denoto.

Mas não só no F, também naquele espaço. Por volta de quando o Festival F dava os primeiros passos, este vosso escriba que aqui devaneia também por essas calçadas andou a desencantar tropelias idiotas, como quando se juntava com putos reguilas nos intervalos de almoço para se irem empoleirar nas traseiras dos comboios turísticos, arriscando bater com a cabeça nas paredes das várias ruas estreitas que hoje em dia são invadidas pelo festival. Anos mais tarde, os primeiros passos da vida boémia foram também por lá, ora à margem da Ria Formosa, nas primordiais saídas noturnas que desafiavam as horas estabelecidas pelos progenitores, às irresponsáveis festas das listas que tinham lugar dentro das muralhas (espaço não abrangido pelo festival) ou na Associação Recreativa e Cultural dos Músicos – um bocado análoga à de hoje em dia, felizmente. 

Ana Moura. Fotografia: Rui Bandeira
Ana Moura. Fotografia: Rui Bandeira

Mesmo o próprio F, quando era ainda mais novo e longe de me tornar um maluquinho pela arte, era uma data importante no calendário veranil como a nossa última grande ramboia antes de voltar à monotonia escolar (e a dor de nostalgia ao escrever isto e a falta de ter tal sentimento). As noites eram celebradas até às tantas com DJ sets no Palco Castelo, com muito confronto entre rebeldia e timidez – sempre acautelando que não encontrássemos amigos e conhecidos dos pais. Porém, durou poucas edições esta forma de ver o festival, pois à medida que fui crescendo e a melomania tomou conta de mim, a festa e entretenimento passaram para segundo plano e eis que a autêntica corrida de orientação para tentar gerir todos os artistas que queria ver começou. Iam os meus amigos para a borga e eu lá me metia feito doido em correrias contra o tempo – ou, contra as sobreposições e overlaps – para apanhar os concertos que ambicionava ver

Como aqui já referi uma ou outra vez, vir de uma zona como o Algarve, fora de muitos dos circuitos feitos por bandas independentes ou mesmo uma região afastada da esfera musical portuguesa no geral, faz com que festivais sejam sítios onde vejo numa tarde mais concertos do que no resto do ano. Não só o Festival F não é uma exceção, como muitas vezes é a única porta aberta que músicos portugueses têm para tocarem no Algarve. Foi no F onde assisti pela primeira vez a concertos de nomes como Linda Martini, Papillon, Mayra Andrade, Conjunto Corona ou até mesmo Ornatos Violeta – na altura, na sua “última tour” – entre tantos outros. Este último que é um dos muitos concertos memoráveis a que ali assisti, juntando-se, por exemplo, ao after party de David Bruno em 2023 antes do seu hiatus, a Slow J das duas vezes que vi (com um contraste entre palco secundário já com o cunho de revelação nacional mais que assumido em 2018 e a de estrelar o palco principal como um dos maiores nomes do festival em 2023) ou ao concerto de Dino d’Santiago em 2022, que carregou uma carga emocional enorme para o artista que assim fez as suas “pazes” com Faro.

Com os seus nove palcos – se contarmos a Silent Party como um – e, no caso desta edição, 90 concertos, o Festival F é o maior evento da cidade. É também por isso um festival que está longe de ser um paraíso para melómanos. É um festival de festivaleiros de circunstância que ali vão precisamente por ser o evento da cidade – se os preços continuarem a subir, é capaz que estes números desçam. Esta convergência de festivaleiros de circunstância funciona como faca de dois gumes, pois muitos concertos acabam por ser afetados pelo ruído conversacional de pessoas que se deixam ficar em zonas de plateia ou pela insanidade de locomoção nos dias de maior assistência. Para um local, isto também faz parte da aura que torna o F tão especial.

Há gente que só encontro no F. 365 dias passam sem lhes meter a vista em cima e do nada lá estamos num círculo de gente que em tempos era inseparável, de repente estão ali de copo na mão entre o “ruído” dos concertos ao longe. Para um farense, andar no F é cumprimentar pelo menos uma mão cheia de pessoas enquanto navegamos entre um palco e outro. É sermos servidos por amigos, seja nos bares, seja, por vezes, nos palcos. É ver o professor de educação física do secundário a abanar o capacete em The Legendary Tigerman. É ir à casa de banho e encontrar esse professor embriagado. É tempo de festa. Não tão pura e castiça como uma “festa da terrinha”, mas com o mesmo factor de vermos doses de desinibição em pessoas da nossa história ou quotidiano, suficientes para percebermos que o F é de Festa, acima de tudo. E que falta faz a festa no Algarve.

Por vezes nem sei bem de onde vem esta minha empatia desmedida por Faro. É de onde sou, é a minha margem, a cidade que me viu nascer, que me viu crescer, que me viu… ser. Gostava de poder homenageá-la de melhor forma do que somente referi-la loucamente num artigo sobre o festival de música que a representa. Contudo, também me sinto meio idiota ao fazê-lo, pois sei que nada que eu faça fará jus à vida que eu aqui já vivi e à que ainda quero viver – e também pela lamechice de algumas destas palavras. A verdade é que tal como Faro, o F está (muito) longe de ser perfeito.

Marco Verde. Fotografia: Rui Bandeira
Marco Verde. Fotografia: Divulgação

Transversal a quase todos os palcos, o F sofre de problemas de som; em menos palcos, também ocorre a ocasional falta de noção na programação. O F tem claros conflitos de interesses no cartaz entre agências e promotoras (até do próprio festival) e sofre do problema da gentrificação numa tentativa de cópia de outros eventos musicais de maior dimensão. Certos nomes do cartaz são promovidos puramente por razões ligadas a redes sociais, a gestão do espaço de certos locais não é a melhor e há muitas sobreposições de artistas convergentes (culpa também do grande número de concertos…). O F até pode não estar na minha lista de festivais favoritos, mas ao menos o F do F continua a ser o de Faro.

Portanto agora, em estilo kamikaze, pois seria anatomicamente impossível uma cobertura na íntegra e aqui tentou-se, mesmo assim, a omnipresença, eis o F, enquanto pelo meio conto o que capturei neste meu triatlo festivaleiro pelos seus nove palcos.

4 Set – Quinta-feira

No primeiro dia de festival, coincidindo com a última semana de férias e a inoportuna ida do meu carro à oficina, acabaria por só ter boleia para o recinto depois de jantar. Acabei por perder, com muita pena minha, a abertura das hostes pelo artista de Paderne, Mateus Verde, que, numa das mais belas paisagens do recinto – o pôr do sol no Palco Arco -, entregou aos presentes a sua folk bucólica e onírica. Contudo, cheguei a tempo para assistir à estreia a solo de Margarida Campelo no festival.

Na sua terceira vez pelo F, tendo já tocado ao lado de Benjamim (que estava na plateia) e de Cassete Pirata, a artista lisboeta veio apresentar o seu disco Supermarket Joy ao Palco Magistério – palco que está constantemente a ser alvo da questão “Onde é que ele é?” e que, talvez por isso, seja constantemente o mais subnutrido em termos de público (atente-se tal informação para o futuro). À meia hora de concerto, sem lhe faltar uma referência a férias no Algarve, tirou o blusão e relatou que este foi um disco difícil precisamente pela experiência que tinha em tocar noutros projetos e que não se sentia tão confortável para escrever letras, destacando as influências de Ana Cláudia e Beatriz Pessoa para cantar em português. Seguiu-se “Aura de Panda” na qual colocou as pouco mais de 40 pessoas presentes a cantar o refrão, continuando a espalhar no palco mais recatado do F a sua pop catita, adornada de umas fragrâncias de um modesto R&B.

Do Magistério, fomos para o Quintalão, situado numa espécie de “centro” do recinto e um dos dois (que se acabariam por tornar três, mas já lá vamos) palcos com lotação limitada, para ver iolanda. Após a sua última passagem pelo Palco Museu (o outro palco com lotação limitada), a artista de Pombal, de vestido e joelheiras, veio apresentar o seu reportório num set bem oleado e preparado, com o auxílio de um bom arcabouço visual por trás de si. Num palco já mais lotado não só pela sua centralidade mas também em mais uma exibição do poder mediático do Festival da Canção, a autora de Cura (2023) pediu ao público tímido que gosta de deixar espaço à grade para se aproximarem e meteu a plateia a bater palmas ritmadas ao som da canção “Assim”, que tem ao lado de Inês Marques Lucas, Matheus Paraizo e Choro, para o VOLUME I do coletivo AVALANCHE. Sofrendo com o tal degradê de interesse – muito ruído conversacional à medida que se afasta do palco, mas que devido ao espaço semi-aberto, acaba por ser geral -, não arredou pé, e na música “Cura” deu uso às proteções que tinha nos joelhos numa performance devota e que pinta bem a postura completa de Iolanda enquanto artista pop cantante e dançante.

iolanda. Fotografia: Camille Leon
iolanda. Fotografia: Camille Leon

No outro lado da calçada, prestes a subir ao Palco Castelo, estreava-se a algarvia Mar. A entrar em palco com a sua música “Atira-te a Mim”, que vai buscar melodia ao êxito “Atira-te ao Mar” dos lendários da fuzeta, Íris, mas sob uma roupagem de trap melódico, a artista com raízes espanholas oriunda de Monte Gordo subiu a palco para “contar histórias” da sua vida. Cheia de família na plateia (com direito a cartazes e tudo) e atrás de si (Ivo Magic no baixo e SUAVEYOUKNOW nos pratos e nos drum pads), a rapper que se autointitula de “baddie romântica”, sob uns 808s a querer aleijar os ouvidos (pela masterização de som ou pela proporção das colunas face à dimensão do palco), entregou canções que iam da ostentação ao amor. Sempre com uma postura que sinergiza uma trapstar e uma artista pop com mania, anunciou que está a acabar de preparar o seu álbum de estreia

Ao descer até ao palco principal – Palco RIA – para ver o carinhosamente intitulado “filho de Faro” por muitos dos espectadores farenses, foi tempo de parar no Palco Músicos – situado na ARCM e com sua respetiva curadoria – para ver o também algarvio Gonçalo Neto. De t-shirt de Daniel Johnston e acompanhado de bateria e saxofone alto, o guitarrista e compositor com educação jazzística deixou o seu pós-rock malandro camuflar essa sua herança, aventurando–se em estruturas descomprometidas e executadas com carinho à ousadia, indo desde as composições autorais, vindas do seu disco Little Dinosaur, lançado o ano passado e com selo da louletana Mákina de Cena Records, a versões desconstruídas à mercê dos gostos do autor.

Chegando ao palco principal, aparece Diogo Piçarra, cabeça-de-cartaz do dia, ao surgir através de umas estruturas quadradas de LED, onde também se escondia a sua banda. A jogar totalmente em casa e recebido calorosamente, seja na frontline devota e equipada a rigor com muitas idades à mistura até para trás da régie de gente que queria ver o South Side Boy de regresso ao seu festival, o cantor e produtor inaugurou o concerto com “Não te odeio”, do seu último álbum, SNTMNTL, editado em 2024. Em seguida, passou a ser acompanhado de dois dançarinos com máscaras que até podiam ter assustado os crentes do regresso dos Daft Punk, e que, após as retirarem, revelaram ser nem mais nem menos que os gémeos olhanenses Uais (Joel e Josué Oliveira). A coser tapeçarias mais metálicas ao seu popzinho delicado, com vocals que estavam mais próximos do nu-metal de que é fã (tem Chester Bennington tatuado na perna) do que ao género que o tornou famoso, o farense de 34 anos deu um show com muita pompa, mas nem tanta circunstância. Apesar do escopo da sua produção, que conta muita artilharia de palco e grandes dançarinos, e da sua devoção vocal, a maneira como articula os momentos em que não canta fá-los tornarem-se repetitivos e as interações com público mal geridas.

Agir surgiu também da tal plataforma eletrificada para se juntar a Piçarra no tema “Até ao Fim”, que foi nitidamente de surpresa – como havia confirmado o algarvio – e sem ensaio, pela dessincronização e aparentes erros no som do microfone. Sendo sempre bom ver um farense a encabeçar um festival desta dimensão, há um momento que chama um jovem da plateia para cantar consigo. Em mais um momento típico do F percebo que reconheço a cara do jovem que sobe ao palco de algum lado e tento escarafunchar a cachimónia para encontrar tal conexão, ficando-me com a teoria final de que se tratava de um rapaz da secundária de Vila Real de Santo António contra quem joguei voleibol no desporto escolar. Mas não havia tempo para perder com este tipo de impasses, pois era tempo de comer para ter energias para a noite que ainda era de muita dança.

De regresso ao Palco Castelo, não havia muito que me fizesse prever a viagem inter-temporal que foi o magnânimo concerto de Fidju Kitxora. Entre máquina, guitarra, um simples set de bateria e muita memória da diáspora a ser talhada ao som de um funaná tratado como se uns Massive Attack fossem de Cabo-Verde e tivessem conhecido um J Dilla com ambições afrofuturistas, este coletivo não parou de dar trabalho ao AUX. Tanto a apresentar o seu (impecável) disco de estreia Racodja (2024), como a intercalarem com momentos de experimentação ou de até dançarem todos ao som de “Nada a Ver” de Camilo Domingos, esta autêntica sessão de alergia ao silêncio foi uma celebração dançante que parecia não ter fim – para grande agrado de todos os que não deixavam os pés descansarem. A determinado momento, junta-se aos músicos um dançarino que estava camuflado como público, demonstrando que um concerto de Fidju Kitxora não é apenas para ser ouvido e dançado, é para ser visto e vivido. Não só corporiza as histórias diaspóricas reinventadas via samples, como também se atirou para o público, empossado de uma lanterna que usava para apontar, à vez, para membros da plateia que respondiam à chamada através de passos de dança que, mais ou menos experientes, melhor ou pior executados, carregavam a máxima da proposta: não ficar parado. Felizmente, tal não foi difícil. Tornamo-nos meros crentes da forma como este distorcia, repetia e reverberava estes sons tão unificadores no momento de ser digeridos pela pista de dança. Com o dançarino de volta ao palco e de bandeira da Palestina em riste, acompanhados de um espetáculo de luzes e fumo que aumentavam a sensação de anonimato e mistério inerentes ao projeto, o coletivo deu um dos melhores concertos da edição deste ano do F.

Fidju Kitxora. Fotografia: Rui Bandeira
Fidju Kitxora. Fotografia: Rui Bandeira

Enquanto que, no Palco Principal, jovens mochantes tentavam cometer a proeza que foi feita em Viseu ao som de ProfJam e LON3R JOHNY, se bem que com uma tarefa mais difícil, pois ali era alcatrão e pedra, na outra ponta do recinto, no Palco Magistério, a sofrer novamente de subnutrição de gente, eis que surge diretamente da Madeira este cometa chamado João Borsch. Camaleão sónico, entre as interpretações mais performativas e as mais rockeiras (por vezes em simultâneo), Borsch entregou-nos durante quase 1 hora, de keffiyeh no microfone central, as canções dos seus dois discos, É Só Harakiri, Baby e Uma Noite Romântica com João Borsch. Desde “Ele Morre no Fim”, ao “Nunca Consigo Recusar”, como quem grita “Bárbara” de “Boca Cheia”, percorreu a sua discografia, com uma química invejável com os seus colegas de banda, arrebentando “Pelas Costuras” com ajuda dos fãs que tão de perto cantarolavam as suas canções. Após a “Pólvora” em que acabou, subiu às cavalitas do teclista ao som de “Wuthering Heights” de Kate Bush, enquanto se despedia de Faro.

Diferindo de 2024, cujas noites do festival terminaram no palco principal com DJs, este ano decidiu-se ir para os acts e foi a vez dos Bateu Matou fecharem a primeira noite, que, já com poucos sobreviventes (talvez até parecessem menos, devido à grandiosidade do palco principal que contrastava com a falta de densidade de público que se mantinha de madrugada no Largo de São Francisco), ainda prometia dar alguma dança. Num set simbiótico entre DJ set e concerto, mais para o segundo e fortemente ritmado pela dupla percussão do grupo, foi uma boa banda sonora para o pão com chouriço que consumi, no conforto festivaleiro de um banco após horas de pé. Foi tempo de conversas e partilhas com malta que começarei a ver menos vezes, antes de ir espreitar se já estava tudo terminado.

Surpresa minha que, a menos de 3 horas do nascer do sol, na ARCM, ainda havia música nos PAs e com um dos mais emblemáticos disc jockeys – na verdadeira ascensão da palavra – da cidade de Faro. Micáh, que tinha começado a tocar às 00:30, ainda se encontrava a altas horas da madrugada a mudar e a meter a agulha nos seus discos, entregando sonoridades que do funk à salsa, ou do cumbia ao samba, deixavam, entre cervejas e passos desajeitados, os resistentes festivaleiros em plena agitação rítimica, que só foram retirados quando se desligaram as colunas e os shôres polícias em filinha pressionaram visualmente a que se saísse do recinto. Dia um: concluído.

5 Set – Quinta-feira

Depois do dia mais quilometrado de todo o festival, onde se aboliram as pulseiras devido aos problemas técnicos e do qual resultaram filas infindáveis, o segundo dia foi marcado por muita queixa nas entradas – apesar de que pelo que me relataram, muito menos do que no dia inaugural – devido a algumas incongruências com quem podia ou não entrar.

A festivalagem começou com nomes grandes do imaginário da pop portuguesa. Com um palco que não faz jus à dimensão do nome, e que se viu logo nos primeiros versos de “Sempre que o amor me quiser” entoados pelo público no palco Quintalão – e pela salva de palmas que recebeu logo no fim -, Lena d’Agua chegou ao festival F para apresentar o seu novo disco Tropical Glaciar, lançado em 2024. Num dos concertos com melhor receção desta edição do festival, de leque na mão e capa do novo disco à retaguarda, a artista lisboeta que se radicou no seu “Hipocampo” admite que sentiu uma “nervoseira” antes de entrar em palco, mas que dentro de momentos isso ia desaparecer. E tal não é de espantar, não fosse cantar o seu êxito “Grande Festa”, que deliciou tanto o público jovem da sua era pós-Desalmadamente como o graúdo que não arredou pé devido à infecciosidade da canção.

Depois de olhar para o robô, atravessou-se para a outra ponta da calçada, à semelhança de quinta mas só que com mais confusão, pois “sextou” e a malta foi aproveitar os ecos da cidade velha para irmos até ao Palco Castelo, onde já cantarolava a ex-Pega Monstro, Maria Reis. Num concerto que merecia muito mais plateia – e que malta de outras regiões do país até devem estranhar tal afirmação -, de barulho em mão e canções que tentam encontrar alívio no meio de inseguranças e ânsias, a cantora e autora, muito bem acompanhada de Tomé Silva na bateria, Francisco Couto no baixo, uma bandeira da Palestina nos monitores e, já não tão bem, por aviões da Ryanair a passarem pelos céus música sim, música sim, a artista lisboeta deu-nos um Suspiro, álbum editado em 2024 pela Cafetra. Ao ouvir-se ao longe os momentos iniciais do concerto de Tara Perdida, a lisboeta solta uma risada questionando “Isto é Tara Perdida?” sucedida de um “Fogo”, só não se percebendo se em desdém ou apreço. Mas a performance seguinte foi das mais efusivas do concerto, com a infecciosidade de “Estagnação” – que desde então está em constante repetição. Num slalom entre vivências indie que vão do rock ao pop e com grossura punk, ouvida em faixas como a final “Coisas do Passado”, Maria Reis deu dos concertos mais subvalorizados e que podem muito bem ter passado debaixo do radar de muita gente – sem ser Marcus Veiga (Scúru Fitchádu) que aprovou visível e audivelmente a performance a partir da plateia.

Maria Reis. Fotografia: Rui Bandeira
Maria Reis. Fotografia: Rui Bandeira

No palco Museu, onde não se fuma, não se bebe e não se come, mas que normalmente até é um palco agradável quando a malta se senta e cria espaço, estava Silly. Acompanhada de Fred Ferreira (na bateria) e de um bom espetáculo de luzes que refletia entre os pilares e corredores dos claustros do museu, no qual faziam um pandã com os trabalhos loopianos dos vocals e 808s das canções de Miguela, a artista lisboeta, que cresceu alentejana e nasceu insular, diz-se muito contente por estar a estrear-se em Faro num palco tão bonito. E lá isso é, não haja dúvida. Porém, em termos de ergonomia da plateia, do calor que ali se cria e do ruído conversacional que vai ecoando pelos corredores, chocando uns nos outros, apreciar o trabalho dos artistas pode tornar-se uma tarefa difícil, sem que estes tenham qualquer culpa.

À espera do funaná industrial de Scúru Fitchádu, foi tempo de deambular pelo festival, sem paradeiro premeditado. Foi por aí que assisti a Bárbara Bandeira a replicar as mesmas interações de público de há três anos e a entrar num loop de pessoas a proclamarem-se aniversariantes, com algumas até a mostrarem o seu CC para as câmaras que projetavam nos grandes ecrãs. Para quê proteger os dados quando podemos ter a Bárbara Bandeira a cantar-nos os parabéns? Foi também aí, neste deambular acompanhado de compinchas enquanto tentávamos colecionar os chapéus e óculos das marcas que detinham stands no recinto para nos equipararmos àquelas despedidas de solteiro que tanto vemos estrangeiros replicar na nossa região, que me deparei com flyers no chão com a cara de Djodje, a indicar o pessoal que o seu concerto era à 1 da manhã no Palco Sé – curioso, alguém tinha medo de que não aparecesse muita gente naquilo que podemos considerar o principal secundário.

Passei por lá e não é que mais de metade da sua performance foi assolada por um problema técnico, em que o artista não conseguia receber feedback? Após esse tal momento de limbo, em que o próprio artista alertou que poderia não haver uma continuação, foi tempo de atarraxar com os camaradas, fraternalmente, antes de regressar ao Palco Castelo, para a ramboia da noite: Scúru Fitchádu

Se me dissessem que seria neste palco que eu alguma vez iria ver os melhores concertos de uma edição, talvez acreditasse, mas não seria fácil. Porém, novamente, na segunda noite desta edição o melhor concerto não só se passou neste palco, como também tinha o cunho sonoro do funaná – para além de ambos os projetos contarem com Henrique Silva (dos Acácia Maior).

Scúru Fitchádu. Fotografia: Rui Bandeira
Scúru Fitchádu. Fotografia: Rui Bandeira

Entre luzes vermelhas e fumo, o concerto de Scúru Fitchádu começou com um som quase inaudível (suscitando até alguma confusão se seria intencional), mas após algumas correções, rapidamente se cantou pelo povo, educação e saúde. Sempre com a política nos seus ditos cantares musicais e uma energia que junta a agressividade industrial ao frenético da percussão cabo-verdiana, Scúru Fitchadu são os Converge do funaná. Não digo isto só pela energia punk na veia, mas também pelo que pode ser um concerto destes. Por já passar das 2 da manhã, a carga etílica da plateia fez-se sentir em mosh pits (nos quais eu, um não usufruidor destas práticas, se viu fui metido) que fariam corar de inveja a malta do Morte ao Silêncio. Tais sons e cowboiada, foram funcionando como sirenes para chamar os festivaleiros que ainda buscavam ramboia. Entre passagens pelo seu reportório, que Marcus brincou dizendo que “ninguém aqui conhece”, ou versões célebres de funaná dos anos 90, verificou-se uma enorme mobilização de malta num concerto que se tornou dos mais energéticos desta edição. No final, gritou: “O proletariado somos todos nós”, apontando especialmente para os artistas independentes e aqueles que trabalham na cultura. Mais que certo.

Quanto a mim, estava cansado e encharcado pelas cervejas acrobáticas que inconscientemente vieram ter comigo nos mosh pits. Foi tempo de ir fechar os olhos a casa, por um bocadinho, até porque o que estava a dar era Supa Squad. Então era mesmo o melhor a fazer.

6 Set – Sábado

Ah… sábados de F. Já tenho ido a festivais e concertos que duplicam ou triplicam a assistência do Festival F, mas acreditem quando vos digo que um onde se encontra mais engarrafamento, é o F a um sábado. Dado o dia da semana que é, o domingo à vista – ainda por cima esse, que foi feriado municipal – e as ruas estreitas, tornadas ainda mais estreitas com bancas de feiras e stands de empresas multinacionais que oferecem brindes, eis que chega um dos dias com menos quilometragem feita em todo o festival.

Mas foi o que começou mais cedo, pois às 21 Ana Moura abria as portas da sua Casa Guilhermina para o público farense. Em estreia a entrar nesta casa em performances ao vivo, fui logo recebido com o título do último disco sucedido a “Um espetáculo de Ana Moura” e percebo que não ia assistir a uma mera lista de canções interpretada de forma exclusivamente sónica. E de facto, dado o que Ana Moura entrega com este espetáculo, seria um ultraje considerá-lo somente como um concerto. Foi a celebração do seu disco. Da sua história e uma homenagem à sua família.

Não só pelo profissionalismo com que interpreta “religiosamente” cada traço delineado, como também pela sinfónica harmonia que detém com os parceiros de bailado ou pelo autêntico cinema que a produção audiovisual tem no espetáculo à sua retaguarda, Casa Guilhermina é um espetáculo que ataca em todas as frentes e é uma boa lembrança da importância deste disco para uma nova versão de, não só ver o fado, como também de reimaginar como podemos manobrar a música tradicional portuguesa – e como assim já lá vão 3 anos desde o seu lançamento? Parece que está tudo orquestrado à mínima curva. Se o disco tinha caído no esquecimento de alguém, certamente que muitas destas canções rejuvenesceram ou até ganharam um encanto que anteriormente não tinha sido encontrado. A começar com câmaras de vigilância da sua casa, como se estivéssemos numa Atividade Paranormal, Ana Moura entra como fado que a trouxe às lides mais mediáticas da música portuguesa (para apreço de todos aqueles que ainda não entraram na Casa Guilhermina).

Ana Moura. Fotografia: Rui Bandeira
Ana Moura. Fotografia: Rui Bandeira

Já o público, mesmo com uma Ana Moura um bocado rouca, talvez pela humidade ou pela grande dose de concertos, a dar tudo de si, tinha os pés pregados ao chão. Estes que, miraculosamente, se começaram a mover assim que entoou a canção “Desfado”, porém sob roupagem Guilhermina. Entre a ternura de homenagens à sua prima Cláudia, em “Mázia”, à ainda belíssima “Andorinhas” – com videoclipe gravado em Olhão -, acabou por também dar um ar de sua graça com a findável “Fado Loucura”, para deslumbre da plateia mais sênior, que entre o clássico “ah fadista” e palmas ininterruptas, saudaram este seu “mundu nôbu” do fado.

E no que acabaria por ser a primeira vez em muitos anos que tinha tanta hora “morta” no recinto, foi tempo de explorar o que por lá se passava. Passando pela hérculea fila para a silent party – tradição que penso já não usufruir desde antes do COVID – que mais parece o AquaShow em agosto, eis que não é o meu espanto que esta não se tratava da maior fila do momento no F. Essa estava nas imediações da entrada no recinto do lado da baixa, na zona de acesso ao Palco Magistério, que, pelos vistos, também tem uma lotação limite.

Com seis meses de existência e dois singles a registarem-se como hits, os Vizinhos cometeram a proeza de entupir o acesso do Palco Magistério ao ponto de até a polícia ser necessária para controlar o congestionamento ao nível de um acidente em hora de ponta. Deste acontecimento advêm algumas questões para lá do redondo “porquê?”. Por um lado, é expectável que uma música a ser cuspida por tudo o que é difusor de música, dos mega comprados (streaming) aos comprados (rádio) fosse fomentar a vontade incessante de meter uns vídeos da banda nas lides digitais (há que alimentar as tendências e os algoritmos, afinal). Portanto, será que foi uma boa ideia por parte do festival enfiar os Vizinhos neste palco? Pergunta contraditória e difícil. Por um lado, sim, pois, novamente, é uma banda com pouco mais de 6 meses e dois singles; por outro, era sabido que o mediatismo era gigantesco.

Questões interessantes, mas não mais do que tentar entender se as pessoas realmente são guiadas (manipuladas) para uma canção como se estas tivessem um cartaz a dizer imperial/fino a 20 cêntimos. Ou se a constante exposição a algo que baste ter uma melodia cantável, independente do que seja dito, é o suficiente para instaurar uma moda, uma tendência e subsequente vício. A verdade é que “Por do Sol” foi entoado por centenas em simultâneo, duas vezes, porque sim – havia que preencher o slot de tempo atribuído e, segundo relatos, tal foi feito com uma ou outra música nova e versões de canções de cante alentejano e tunas universitárias.

Miguel Luz. Fotografia: Camille Leon
Miguel Luz. Fotografia: Camille Leon

Já a seguir a ver o desengarrafamento, em mais um dia de artistas Sons em Trânsito, dava-se outro nome curioso no cartaz: Miguel Luz. Equipado a rigor para uma publicidade da Levi’s, estava o ex-youtuber pirotécnico, que já se aventurou nas lides musicais lá para o ano de 2017 enquanto Mike Lyte (com o disco Crocodildo). Em telescopia, relembro-me de achar piada (tinha 15 anos) a essa incursão autoconsciente de rap irónico-cómico, mas sem certezas de que se sem a nostalgia conseguiria reouvir com apreço. Nestas suas lides de pop rock limpinho e delicodoce, desconheço e do pouco que conheço, deu para perceber ao longe (fora do Quintalão, por este estar lotado), que estava bem da parte de fora.

Em dia de espetáculo alegórico paradisíaco para os millennials (Revenge of the 90s) como divertimento noturno do palco principal, deu-se o dia por terminado ao som de Melão, enquanto esperava pelo TVDE.

7 Set – Domingo

Com um olho no palco e outro no Flashscore – a ver o resultado da final do US Open entre Alcaraz e Sinner -, era tempo de esperar por um dos concertos mais aguardados desta edição: Dino d’Santiago com a Orquestra do Algarve.

Depois de José Cid e Capitão Fausto, foi tempo do quarteirense integrar esta recém instaurada tradição colaborativa entre artistas condecorados e a orquestra do sul. Se pensam que uma orquestra em palco de festival deve soar a um pesadelo de masterização, acreditem que o que por vezes se ouve é o resultado disso mesmo…

E nem digo isto de forma totalmente pejorativa. A execução da tarefa não é fácil e por vezes o resultado final prova que o conceito acaba por ser melhor que a sua execução. Afinal de contas, é um palco que não está preparado para tal. Mas, maneirismos e preciosismos à parte, depois da sua muito emotiva performance em 2022, Dino voltou ao palco principal do festival da cidade que também o viu nascer. É mais um marco para o artista algarvio, o de atuar com a Orquestra da sua região, no maior festival da mesma, encabeçando mais uma vez o cartaz.

À parte da orquestra, apresenta o mesmo line-up que levou a Coura, com o seu irmão Elidio e a também quarteirense Alice Rosa na voz extra, a quem se junta o guitarrista e produtor Djodje Almeida (Jorge Almeida). Dino começa com o que parece ser uma versão da melodia da música “Nôs Tradison”, mas com uma letra dedicada a quarteira, com referências à Checul e ao “peixe do Zé” – não se preocupem, não sou eu, pois nunca pesquei nada a não ser conquilhas -, culminando com um poderosíssimo “Sou Quarteira” no lugar de refrão.

De Barlavento a sotavento, sinto-me um algarvio de gema, remata em seguida, confirmando as expectativas de que iríamos estar perante uma performance singular e de tremendo valor emotivo. É assim que entre cordas orquestradas e sinfonias cintilantes que contrastam a crueza digital das batidas originais das canções de Dino, que brota “Mundu Nôbu” numa performance que culmina com referência à sua ONGD com o mesmo nome.

Dino d'Santiago com a Orquestra do Algarve. Fotografia: Rui Bandeira
Dino d’Santiago com a Orquestra do Algarve. Fotografia: Rui Bandeira

Este é um Dino diferente daquele a que nos habituou. De terno, cauteloso e de verossimilidade na palavra, o que não fazia em dança e saltos, fazia a balancear as cordas vocais em exposições da sua capacidade vocal. Esculpindo batidas rítmicas mais contidas, para de melhor forma casar com a delicadeza das harmonias orquestrais, como foi o caso de “Eskina”, canção que tem ao lado de Slow J e que nem parecia a mesma – apesar de compensada pela performance de Dino -, havia pares que resultaram na perfeição, como é o exemplo de “BRAVA”, ou, surpreendentemente – pela dependência de pujança -, “Kriolu”, com os músicos que tentaram dançar, mesmo que ocupados com os seus instrumentos musicais.

Houve tempo ainda para promover a sua ópera, Adilson, que estreou poucos dias depois do concerto, ao sair e dar o palco à jovem Kofee, que com o seu vozeirão deixou as pessoas boquiabertas – com queixos a embater em alcatrão e passeio – com o poder da sua performance da música “Morna”. Posteriormente, cantou-se Cesária Évora para antever a “Nova Lisboa”. Antes de vir brindar o público, deixou claro a mensagem de que nós estamos a plantar a semente de uma árvore que sombra não nos irá dar e sim aos que nos sucedem, e procedeu a vir sujar de poeira o terno ao saltar ao som de “Mbappé”, que tem ao lado de IVANN, após ter assistido parte do que o público assistiu mais de 1 hora e 20 minutos. Após ter passado uns valentes minutos do tempo estabelecido – nenhum a mais, diga-se -, despediu-se de uma multidão que chamou de família e saiu com votos de uma geração de ouro.

Num domingo, feriado, que nem fazia crer que no dia a seguir – que é como quem dias, passado umas horas – era segunda-feira de trabalho, fazia-se notar a anemia do cartaz neste dia face aos restantes. Enquanto que um Pedro Abrunhosa, bem intencionado mas ligeiramente contraditório, falava de causas sociais e – com uma grande banda, atente-se – ergueu um show de quase 2 horas, era tempo de aproveitar o tempo com a malta (que é como quem diz, beber cerveja sobrevalorizada, mas que pode ou não ter sido oferecida por quem servia), para fazer tempo para dois gurus do rap nacional.

E tenho de desculpar os meus camaradas do hip hop, pois tal como eles também estariam, estava intrigado para ver Mundo Segundo e Sam the Kid – ouvi muito a “Porque Tu Não Sabes” em momentos que tinha espinhas na cara e pouca espinha dorsal -, mas, não sabendo se tal fadiga advinha do desgaste físico-festivaleiro, ou da consciência de que em poucos dias ia abalar para longe da minha terra, não aguentei muito, pois não me estava a dizer grande coisa. Eis que então me despedi do pessoal com quem estava – alguns, quiçá só os vejo no próximo F – e abalei para casa com a boleia de um compincha de longa data. Conversou-se como já não fazíamos há uma catrefada – não é nenhuma referência à Maria Reis – de anos. Falou-se do futuro e despedimo-nos desejando sorte para o que se avizinhava. Passado uns dias mudei-me intermitentemente – porque o permanente assusta – para uma cidade a mais de 500 quilómetros de distância de Faro.

Mundo Segundo & Sam The Kid. Fotografia: Duarte Drago
Mundo Segundo & Sam The Kid. Fotografia: Duarte Drago

Vou lá (cá?) estar menos vezes. Mas voltarei sempre que puder. Mais uma vez, não sei de onde tal fascínio brotou. Tento desviar-me do vício de ser lamechas, o que sinto é que de facto isto é realmente referente a Faro. Contudo, é às memórias que lá tenho, com as pessoas que lá tenho. As vivências que delineamos nos contornos da cidade, à qual nos aproximamos com o laço de casa. Que privilégio este: o de poder estar em casa. Esclareço que não me refiro a isto como um idiótico sentido de vítima de me tornar deslocado –  já agora, não vi os NAPA -, pois esta decisão é uma alimentada por opção e privilégio. Há quem não escolha. Avizinham–se tempos tenebrosos e é bom ter consciência disso e de que não há nada como casa. Para mim, Faro é casa. Se iliba os defeitos do F? Nem por isso, até agrava o sentimento que se tem deles, mas não há festival nenhum a que eu vá que possa dizer que me sinto… em casa.

Nascido e criado em Faro, divide o seu coração entre as suas duas grandes paixões, o cinema e a música. Aspirante a cientista da comunicação, já passou pelo Espalha-Factos onde foi um dos autores do À Escuta. Conseguem apanhá-lo em festivais de música e em cineclubes!
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Falando, com F grande, do “nosso” Festival.

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